sábado, 5 de outubro de 2013

Noite Feliz

À noite parece que toda paciência, ou espírito cai fora de nosso alcance.

Não há mais o que fazer: o corpo extenuado arrasta o cérebro para um abscesso de lama e merda; a vala do inferno.

O dia com seus longos e estéreis compromissos já não lhe incomodam. Pelo menos pelas próximas dez ou doze horas. Agora é o momento do êxtase, da redenção, o gozo precoce gerador de uma felicidade natimorta.

É à noite que as ilusões se juntam aos fantasmas para fazerem do seu cérebro ou coração um parque de diversões duvidosas, cujas maiores atrações são revestidas de sadismo e horror.

É a fração de liberdade de um moribundo; a glória semi-sentimental de um pedaço de carne robotizado, lobotomizado e por fim, mas não menos importante, castrado.

Enfim, demos um viva às noites. E a todos os seus jogos e armadilhas. E que nossas mentes apodrecidas consigam suportá-las, aos pedaços, mas com um mínimo de decência e dignidade. Seja lá o que isso signifique.


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