E então, sem um motivo aparente que servisse para explicar seu novo hábito, Souza chegou em casa no seu horário de costume, trazendo consigo o pão comprado naquela padaria de esquina, que é mais caro, mas que vale a pena, pois hoje em dia é difícil encontrar um bom pão francês, daqueles que além da casca têm algo de miolo. Junto do pacote dos pães e do queijo coalho veio uma nova aquisição. Algo simples, mas o suficiente para deixar sua esposa em polvorosa: depois de anos de casado e de promessas feitas, e cumpridas a duras penas, Souza resolveu chegar em casa com uma caixinha vermelha, com vinte cigarros em seu interior. Uma daquelas que tem o nome semelhante ao seu. A princípio, a mulher não compreendeu, mas após uma pausa não apenas continou sem compreender, como iniciou intensos ataques a seu senso de responsabilidade, a sua falta de domínio sobre impulsos adolescentes e estúpidos e, enfim, ao que restava de sua moral. Enquanto ouvia o matraquear da esposa, Souza abriu a carteira e com o isqueiro, também recém-comprado, acendeu o primeiro cigarro em anos. A primeira tragada lhe deixou a sensação de um contato mais íntimo com a morte e, a bem da verdade, ela não lhe pareceu assim tão ruim. A cada vez que inalava e expelia aquela fumaça, com mais de 4.700 substâncias tóxicas, se sentia mais puro, como se todo o sentimento de frustração e raiva que lhe atormentara durante todos os dias daquela semana estivessem indo embora junto com as cinzas que se acumulavam num copo improvisado como cinzeiro. Finalmente concluiu, ou pensou que o tinha, que a vida não passava de um amontoado de pedaços disformes colados à força uns aos outros e, apesar de ter aprendido na TV que o cigarro faria mal a sua saúde, acendeu mais outro e tragou com ainda mais prazer. Desta vez, inalou com a plena consciência de que a morte o esperava com uma certa ansiedade e por mais que no fundo sentisse algum receio, percebeu que a recíproca, nesse caso, era mais do que verdadeira.
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