sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Nunca olhe para trás

Andava pela rua em uma sexta à noite, sem direção exata. Acendi um cigarro pra passar o frio, meus pés me matavam, a dias tinha encontrado um sapato velho na rua, não era meu número mas mesmo assim resolvi levá-lo pra casa. Havia tirado a palmilha, não resolveu muito, era apertado e sentia o chão quando pisava, meus dedos cheios de calos e calcanhares também. Quase desisti dele, mas decidi lutar, já havia derrotas demais na minha ficha e não seria derrotado por esse par de sapatos. Apesar de andar com dificuldade, insistia em calçá-lo. Acendi outro cigarro e mais outro e assim por diante, eles iam acabando e eu junto com eles, assim é a vida, sempre há algo em troca, pelo menos morreria por uma coisa que gosto. Passava em frente a uma casa grande e velha, parecia um lugar bonito apesar das más condições, não era muito tarde, olhei para a frente daquela casa, ela ostentava poder. Por um momento pensei em seu tempo de glória e em quem morava ali. Desvencilhei e continuei andando. Meus cigarros acabaram. Olhei novamente havia pouca luz, mas dava pra perceber que havia cadeiras e mesas, talvez fosse um depósito agora ou haveria ali uma festa. Pensei em que tipo de pessoas estariam nessa comemoração. Continuei andando e meus pés e cigarros continuavam me matando. Mais alguns passos até aquela voz chegar aos meu ouvidos.
 Ei! Ei!
 Exitei em olhar, continuei andando.
 Ei, você de casaco jeans.
Olhei para trás, vi que era comigo, mas não dei atenção, continuei andando. Os gritos continuaram. Voltei lentamente.
 Sim.
 Gostaria de ganhar uma grana fácil?
 O que tenho que fazer?
 Me ajudar a guardar umas coisas.
 Que tipo de coisas?
 Cervejas, pô-las nos freezers.
 É só colocá-las aí e nada mais.
 Terei que sair, quando chegar te pago. Ele disse.
 Ok. respondi
Comecei a guardar as cervejas, os sapatos me matando, resolvi tirá-los. Cervejas, cervejas, mesas, cadeiras, pouca luz, árvores. Nada mais, esse era o cenário. Todas aquelas cervejas, como queria um cigarro. As cervejas estavam quente, resolvi abrir uma, não havia abridor tive que usar os dentes, não tinha muita coisa na vida mas tinha dentes fortes e me servia de vez em quando. Tomei um gole, era ruim, mas não desisti e segui em frente. Parei de guardá-las. Enfim a segunda a terceira e assim por diante. Depois de uma hora meu contratante chegou, eu já estava bêbado e sem sapatos, perguntei se ele tinha cigarro.
 Que merda é essa? Ele respondeu.
 Não respondi.
 Levante- se! ele gritou.
 Suma daqui seu vagabundo safado, deveria cobrar pelas cervejas.
Não respondi, deixei os sapatos, não aguentava mais eles. Andei pelo escuro em direção à saída. Ele ainda resmungava. Peguei uma baga de cigarro no chão acendi e continuei andando e pensando quem estaria naquela festa.

H. Almeida.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Herança Bastarda

Parte 1

Agora a chuva cai, o cheiro de barro molhado me faz lembrar minha infância, época boa, viver sem preocupações e sem nenhum amor no peito, um ser egoísta por natureza, e ainda recebia amor incondicional por parte de minha mãe. Hoje minha vida tomou um rumo diferente, diria até que tomou um rumo bastante bizarro, nunca tive dificuldades em conquistar mulheres, mas para ser franco sempre preferi sexo pago. É ilusão o homem achar que não paga para ter sexo com uma mulher, a diferença é que as prostitutas sempre são mais baratas, elas apenas querem dinheiro, não pedem sua liberdade.
Como todo mundo, eu cometi erros em minha vida, mas com certeza o pior foi aos quinze anos, quando por ser um idiota refém dos meus hormônios engravidei uma imbecil que morava vizinho a mim, e como se não bastasse ainda possuía um maldito senso moral e me casei. Eu poderia dizer que foi bom no começo, morar sozinho com uma mulher e fazer muito sexo, mas estaria mentindo, e acabei indo morar com meus pais.
Minha relação com meu pai sempre foi a pior possível e isso não ajudou a melhorar. Minha fantástica esposa e eu dormíamos na sala que era diante a entrada do quarto dos meus pais, seria um luxo naquela casa miserável existir porta ou cortinas, então o meu maldito pai não perdia a chance de mostrar quem era o homem da casa e demonstrava isso transando com minha mãe todas as noites sem se preocupar com nada e sem nenhum pudor. Quando pedi para morar com minha mulher é claro que ele aceitou fazendo algumas exigências, e a primeira condição para que eu pudesse morar na sua casa seria nunca desrespeitar suas regras e uma delas seria que o único homem que poderia fazer sexo ali dentro seria ele, não questionei, pois não tinha onde morar.
Um mês depois de morar lá com minha esposa, minha mãe faleceu por conta de problemas no coração, ainda tive a ingenuidade de achar que meu pai se abalaria, mas como sempre eu estava errado e nada mudou.

Continua...

El Cunha

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Despedida

Estarei por perto, ainda que distante
E estarei presente
No teu passado recente
No teu futuro de ontem.

Nos versos deste poema,
estarei eu por inteiro...
E no ar que ora respiras
Nas páginas ocultas de um livro que nunca escrevi
Na canção que não cantei
Na lição que nunca aprendi.

Estarei por perto, ainda que distante
E quando um dia
O meu silêncio acabar em poesia
Saberás que estou vivo...
E será o bastante.

A. Cavalcante