as horas durante a noite podem ficar muito mais lentas que a média e isso é um problema. é neste momento que você vai ficar sozinho pensando em todas as besteiras que fez ou deixou de fazer durante o dia e a semana e os meses e os anos. eu posso lhe garantir que isso leva qualquer um à beira da loucura. todo esse passado não vivido vem acumulado em grandes blocos de pedra e merda que chegam como uma porrada direto na sua cabeça, uma daquelas dignas dos velhos boxeadores. e eu te digo mais uma vez: pode não ser legal. não há o que fazer com toda a massa disforme e confusa a não ser arrumar um lugar para ela na cama, ao seu lado, depois de tentar expulsá-la várias vezes do quarto. a bendita televisão irá se tornar uma aliada no seu desespero, mas nem ela e nenhum livro desinteressante o suficiente ou mesmo as sacanagens habituais irão resolver. infelizmente, para você, ela chegou com força e determinação e não vai largá-lo ou sequer deixar que faça (ou seja) algo nesse momento. o jeito é espremer e derreter o cérebro durante toda a noite pensando em como tantas coisas poderiam ser diferentes, se lamentando e se redimindo em seguida e começando tudo de novo cinco minutos depois. não adianta chorar. você poderia fazer melhor uso da sua incapacidade. gênios e artistas e patifes metidos à besta trabalham e fingem que pensam nesse momento. mas não você. afinal, é apenas um qualquer que passa a noite sonhando dormir e tentando consolar a si próprio do seu fracasso, do fracasso das pílulas, dos médicos, da tv e de todo o resto do mundo. já não vale mais a pena. talvez nunca tenha valido.
D. Simões
Saudações!
ResponderExcluirPor algum motivo a pessoa que escreveu esse texto não quis se identificar... talvez pq o próprio texto seja o grande responsável por construir esse mecanismo de identificação. Nós leitores que nos "identificamos" com o texto seremos e atuaremos, portanto, como co-autores do escrito. Quando li esse texto senti como se fizesse parte dele, como se eu mesmo o tivesse redigido... E é essa força de atração, esse contato expressivo, esse sentimento perturbador absorvido que nos aproxima e que me faz reclamar sua co-autoria. O leitor ao se identificar e ao atribuir novos sentidos ao que foi lido, trabalha tb como um autor, como um co-autor. Viajens a parte, gostaria de dizer que gostei bastante do texto, ele sintetiza muito bem como uma série de fatos e distrações interferem na vida de muitos indivíduos que cada vez mais perdem o controle sobre suas vidas, rendendo-se aos caprichos da mente e da rotina tediosa do dia a dia. Eis aí, talvez, a grande doença da modernidade...
o camarada já tem um destino traçado dentro da sociedade, sem chance pra dar tiro errado. falhas não são permitidas no mundo industrial.
ResponderExcluir(tinha esquecido de pôr o nome)