sábado, 27 de novembro de 2010

Aqui jaz!!

- Não baby! Não adianta, aqui é que é o meu lugar...
- Não, não garota, sua casa pra mim é apenas uma enorme gaiola de ouro...
- Não temos nada em comum
- A vida sempre foi bem mais agradável para você, nunca sentiu ao menos um soco dela em seu estômago!
- Sua vida sempre foi fácil, como mulheres que já vem de pernas abertas para meter, muitas vezes tive que pagar por isso,... E acredite já paguei bem caro...
- Mas jamais pagaria com minha liberdade!
- Não adianta não pareço nem um pouco com vocês...
- Hei baby! Espere! aonde vai? Não vá agora...!
- Nós ainda temos algo que se encaixa...
- O que?
- Merda!
- Mais uma que se foi...
- As bocetas de hoje parecem criar asas...
- Malditas garrafas vazias...
- Um cigarro!!!!
( F. Sandes)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mais nada


IMAGEM : THOMAS HART BENTON
Dinheiro eu não quero.
Pode me dar o sexo que ele me proporciona
A bebida que ele me presenteia
A orgia da noite que ele me oferece.




Dê-me os prazeres que a carne ama
E as loucuras que eu adoro.
As mulheres lindas e devassas
E um dia a menos no tédio.


Dê-me tudo isso e eu lhe garanto,
Não vou querer prata nem ouro.
Apenas a graça de viver mais um dia em paz
Amando e sendo amado pelos meus vícios.


(D. Simões)

domingo, 21 de novembro de 2010

Sarjeta

As coisas mais belas do mundo
Conhecêmo-las quando se extingue
Aquele amor que juramos que tínhamos.

É na desilusão do coração ingênuo
Que reside  a verdadeira beleza:
Na rejeição das moças pálidas
No estupro à pátria amada
Na traição da juventude
Na fé ordinariamente comprada.

Está no sangue do trabalho
No suor das lavouras
No sol dos canaviais
No teto dos moradores de rua
Na divisão injusta do capital
A essência do belo humano.

E é na dor 
Que se encontra sua expressão máxima:
Nas nossas asas quebradas
Nos nossos sonhos amputados
Nos cabrestos que nos são postos
Na imundície de nossas sarjetas.

E é a sarjeta esse chão que nós pisamos
É esse ar que respiramos
Essa água que bebemos 
O alimento que comemos
É essa merda que expulsamos.

Alexandre Indius

Nem um canto de saudade

    Toda à noite é uma tortura que não parece ter fim, trancafiado dentro do meu quarto, o cheiro de mofo e ar pútrido paira no ar, mas sempre na esperança de que algo aconteça. Às vezes é necessário que se tome uma atitude e foi o que fiz... juntei alguns trocados e fui correndo comprar uma garrafa de vodca barata, não demorei, e assim que voltei liguei pro adelfo.
  • Adelfo, e aí beleza?
  • Tranquilo...
  • ok
  • comprei uma garrafa de vodca e não tô afim de beber sozinho, será que você me faria companhia?
  • É claro, é sempre bom ter alguém querendo companhia quando se tem uma vodca em jogo.
  • Bem, até mais então.
Não demorei pra sair, não tinha muito o que fazer, era só pegar oque importava (a vodca). A casa de Adelfo não ficava tão longe da minha, no caminho nada para se admirar, as ruas lamacentas e casas mal feitas enfeitam o trajeto. Saí escorregando até chegar lá. Uma garrafa de vodca parece pouco quando você se acostuma com o álcool, e na maioria das vezes não temos dinheiro para comprar mais. O dinheiro é pouco e a sede é muita. Já estava chegando.
corpo de atleta, mas é um cara legal.
  • Adelfo , sou eu!
  • Oh, entre aí. Pensei que não chegaria mais.
  • Você sabe que não tinha lugar melhor pra ir.
  • É, eu sei, cala aboca e entra.
  • Boa hora pra uma bebida, minha vida estava descendo pela privada.
  • É, é sempre uma merda!
  • Toda essa vida sem ação, é uma merda mesmo, não se vivi como antes.
  • Pois é, todas aquelas ondas de protestos ( beatniks, comunistas, punks, hippies) foderam com as nossas vidas, eles agora sabem como nos reprimir.
  • É, e você nem sabe como!
    Adelfo tem olhos claros, cabelos longos e claros, um pouco calmo, um metro e setenta e corpo de atleta,mas é um cara legal.
  • E então por que não começamos logo?
  • Pensei que já tivesse aberta!
  • E não, ainda não, mas eu bebo o primeiro gole.
  • Tudo bem, você comprou.
  • É assim que eu gosto
    bebemos por um bom tempo, sentados ali no quarto de Adelfo, que é muito grande e cheio de pôsteres pelas paredes e bagulhos pelos cantos, bebendo, conversando e ouvindo boa música setentista.
  • Hei Adelfo, que tal saímos um pouco pra dar uma volta?
  • Por mim tudo bem.
  • Quem sabe a gente encontra umas bucetas afim de uns caralhos por aí!
  • Seria legal, mas nunca se sabe, essas coisas nem sempre são fáceis como deveria ser.
  • Eu sei, mas não custa nada dar uma volta e se tivermos sorte...
  • também acho.
    Saímos da casa de Adelfo, estávamos um pouco bêbados, a rua estava deserta e escura parecia que toda a cidade estava assim. Fazia frio, mas tínhamos esquentado nosso corpo com a vodca e não sentimos tanto. Subimos a rua da casa de Adelfo em direção ao centro passamos por uma igreja, muito bonita por sinal, mas inútil para pessoas como nós. O centro não fica muito longe da casa de Adelfo, mas andamos lentamente e demoramos um pouco pra chegar. No caminho bares abertos, mas pouca gente. Todas aquelas luzes pareciam querer nos hipnotizar, nos sugavam em sua direção, mas não se pode hipnotizar quem não tem grana, e normalmente precisa-se de grana para habitar um lugar deses. À noite ia por água abaixo, as bucetas pareciam estar mais longe do que pensávamos. E quem iria querer foder com dois bêbados e sem grana? Elas tinham razão quanto a isso. Tudo isso me incomodava, mas fazer oquê? Eu não fui um felizardo ao nascer. Voltamos pra casa de Adelfo e pra pouca vodca que nos restava, acabando à noite por conversar e rir de toda nossa desgraça. Bebemos é nisso que nos saímos melhor. ( H. Almeida).