Mais um dia que já começa com aquela sensação constante de esgotamento físico e mental. O relógio da mesa de cabeceira avisa que é hora de acordar e encarar o matadouro. A rotina da morte diária será repetida em mais um longo e interminável dia. O jeito é levantar, tomar um banho e uma xícara de café ralo e rápido para não perder o coletivo que, invariavelmente, está tão cheio que as pessoas mais se parecem com sardinhas enfiadas dentro de uma lata. Homens e mulheres - ou o que restou deles - que mal acordaram de uma noite, também, mal dormida e já se acotovelam em busca de algo parecido com uma chance. Que saem de suas casas com o estômago e o cérebro quase vazios, mas com o firme propósito de conquistar seu pedaço de dignidade enquanto, na verdade, contribuem para o crescimento dos patrocinadores de sua fome e miséria. É a honrosa hora de ir para o trabalho. Todos seguem contentes, satisfeitos por saberem, no fundo de suas almas, que a recompensa um dia chegará. Dia a dia a procissão se repete; é uma cena triste e estranha. Os bois continuam seguindo para o abate.